A ciência há muito tempo sustenta que nem todos os tipos de DNA são transmitidos da mãe ou do pai. No entanto, um estudo recente, publicado na revista PNAS, mostrou que o DNA mitocondrial humano pode ser herdado paternalmente, o que sugere que possivelmente teremos que mudar nossos livros didáticos. As informações são da Science Alert.
Enquanto a maior parte de nosso DNA reside no núcleo da célula, parte do nosso código genético é armazenado dentro da mitocôndria – uma organela ativamente envolvida no processo de respiração celular. A visão convencional é que esse DNA mitocondrial (ou mtDNA) é herdado apenas das mães, mas novas evidências sugerem que isso está errado.
O estudo, liderado pelo geneticista Taosheng Huang, do Centro Médico do Hospital Infantil de Cincinnati (EUA), mostra que o DNA mitocondrial humano pode ser herdado também do pai. Essa ideia veio de acordo com um caso histórico que começou com o tratamento de um menino de quatro anos.
A criança, que apresentava sinais de fadiga, dores musculares e outros sintomas, foi avaliada por médicos e testada para verificar se tinha um distúrbio mitocondrial. Quando Huang executou os testes, não conseguiu entender os resultados.
A razão pela qual o cientista ficou tão chocado foi porque os resultados mostraram uma mistura – chamada de heteroplasmia – no DNA mitocondrial do menino, que não tinha somente DNA da mãe.
Embora haja evidência de transmissão de mtDNA paterno em outras espécies, a presença do fenômeno em humanos tem sido debatida, mas nunca antes demonstrada de tal forma. Os cientistas também descobriram evidências semelhantes de heteroplasmia nas irmãs do menino. Eles também analisaram o mtDNA da mãe das crianças, que mostrou a mesma mistura.
“Nossos resultados sugerem que, embora o dogma central da herança materna do mtDNA permaneça válido, existem alguns casos excepcionais em que o mtDNA paterno pode ser passado para os filhos“, explicaram os autores no artigo.
Embora esses casos possam ser excepcionais, eles não são necessariamente tão raros quanto antes se imaginava. Os pesquisadores identificaram três famílias de várias gerações não relacionadas que mostraram um alto nível de heteroplasmia de mtDNA – variando de 24 a 76% – em 17 indivíduos separados.
Antes disso, dois relatos de casos separados, ocorrendo no início do século, sugeriram que a transmissão de mtDNA de pai e mãe pode ser possível. No entanto, por 16 anos nenhuma outra evidência foi apresentada – e muitos pesquisadores perderam o interesse na temática ou não conseguiram financiamento.
Segundo o biólogo Xinnan Wang, da Universidade de Stanford, a descoberta é inovadora e poderia abrir um campo completamente novo, bem como mudar a forma como procuramos a causa de certas doenças mitocondriais.
Os pesquisadores afirmaram que os resultados poderiam significar que muitos casos de transmissão do DNA da mitocôndria de pai e mãe foram negligenciados como erros técnicos e falta de cuidado na verificação dos dados. De qualquer forma, eles sugerem que as novas evidências devem iniciar uma avaliação mais ampla das possibilidades do mtDNA, apesar de a transmissão materna continuar sendo dominante.