Embora muitos dos genes que sofrem mutações e levem ao desenvolvimento de diferentes tipos de câncer já terem sido identificados, as células que dão início à formação de tumores – após o acúmulo dessas mutações gênicas – ainda são desconhecidas, apontam especialistas na área.
Por meio de experimentos de rastreamento de linhagem genética de camundongos – que permitem a expressão ou a deleção de genes relacionados com o surgimento de tumores em linhagens celulares definidas –, pesquisadores da Universidade Livre de Bruxelas (ULB), da Bélgica, têm avançado na identificação de linhagens celulares que originam alguns tipos de câncer, como o de pele.
Alguns dos resultados mais recentes foram apresentados por Cédric Blanpain, professor da ULB, em palestra na segunda-feira (08/10) na FAPESP Week Belgium. O encontro, realizado em Bruxelas em 09 de outubro, e em Liège e Leuven, no dia 10, reuniu pesquisadores brasileiros e belgas com o objetivo de estreitar parcerias em pesquisa.
Uma das descobertas do grupo de Blanpain nos últimos anos foi que alguns tipos de câncer, como o de pele, possuem células com características de células-tronco – capazes de dar origem a outras células – e que desempenham um papel importante na reposição celular e na regeneração de tecidos após lesões.
“Temos rastreado a origem celular dos cânceres de pele mais frequentes em humanos e feito avanços importantes. Nosso laboratório foi o primeiro no mundo a identificar os estados de transição celular que ocorrem durante a progressão do câncer de pele”, disse Blanpain.
Por meio de diferentes abordagens, os pesquisadores belgas pretendem avançar, agora, no entendimento dos mecanismos que regulam a função das células-tronco cancerígenas durante o crescimento do tumor e a recaída após a terapia.
“Compreender os mecanismos que regulam a função das células-tronco cancerígenas é importante para o desenvolvimento de novas formas de tratamento”, afirmou.
As descobertas de Blanpain sobre as células-tronco cancerígenas motivaram a ULB a anunciar, em maio, a criação de uma spin-off de biotecnologia, chamada Chromacure, voltada a desenvolver novas terapias contra o câncer.
A startup recebeu um investimento inicial de 17 milhões de euros de investidores da Bélgica e dos Estados Unidos e mais 3,5 milhões de euros, em setembro, da Valônia – uma das três regiões administrativas e uma das entidades federadas da Bélgica.
A empresa pretende lançar um programa de rastreio de potenciais moléculas que possam resultar no desenvolvimento de novos medicamentos para o tratamento de alguns tipos de câncer.
“Já identificamos no nosso laboratório alguns alvos que têm um papel importante na progressão do tumor e em vários tipos de câncer”, afirmou Blanpain. “A ideia é identificar nos próximos seis anos drogas que inibem esses alvos”, afirmou.
Oncologia personalizada
Com os avanços da genômica nas últimas décadas, que resultaram no sequenciamento de genes mutagênicos relacionados ao desenvolvimento do câncer, a doença entrou, agora, na era da oncologia personalizada, por meio da qual é possível avaliar se um paciente tem predisposição hereditária ao câncer, disse Dirce Maria Carraro, pesquisadora do A.C. Camargo Cancer Center, também em palestra no evento.
“Nos últimos anos têm sido descobertas novas mutações em genes associados ao desenvolvimento de câncer, desvendada a frequência de mutação em genes recentemente associados à doença e identificados novos genes candidatos associados a síndromes hereditárias que predispõem ao câncer”, afirmou.
Seu grupo de pesquisadores está elaborando um estudo com o objetivo de monitorar a resposta terapêutica de pacientes com tumores renais, câncer colorretal, de pulmão, de pele, de cabeça e pescoço e tumores raros. O estudo terá a participação de, pelo menos, 100 pacientes por tipo de tumor.
“Queremos avaliar a resistência desses tipos de câncer à quimioterapia ou à terapia-alvo”, disse Carraro. Com informações da Fapesp