Uma pesquisa desenvolvida pela Unicamp, em Campinas (SP), em parceria com a Universidade de Oviedo, na Espanha, encontrou uma forma de utilizar nanopartículas de ferro na fortifiação de leite para recém-nascidos. A tecnologia é possível tanto para uso em fórmulas infantis como para ser somada ao leite materno.

A descoberta desse uso permite que o ferro – essencial para evitar doenças como anemia e para estimular o desenvolvimento do bebê – seja melhor absorvido pelo organismo. O teste foi feito em cobaias e o próximo passo é fazer experimentos in vitro (teste em laboratório com células intestinais).

“A gente tem um problema muito grande com a fortificação do ferro nas fórmulas infantis. Hoje é usado o sulfato ferroso, mas está em uma forma química muito diferente que influencia no processo de absorção do ferro. O foco da nossa pesquisa era encontrar um fortificante mais eficaz que se assemelha mais ao encontrado no leite materno”, explica Rafaella Regina Alves Peixoto, pós-doutoranda em química e uma das pesquisadoras envolvidas no estudo.

Segundo Rafaella, o ferro presente na nanopartícula foi absorvido e metabolizado pelo organismo das cobaias de maneira eficaz.

Rafaella Regina Alves Peixoto é pós-doutoranda e pesquisadora da Unicamp no estudo sobre uso de nanopartículas de ferro como fortificante para leite (Foto: Antonio Scarpinetti/Ascom/Unicamp)Rafaella Regina Alves Peixoto é pós-doutoranda e pesquisadora da Unicamp no estudo sobre uso de nanopartículas de ferro como fortificante para leite (Foto: Antonio Scarpinetti/Ascom/Unicamp)

Rafaella Regina Alves Peixoto é pós-doutoranda e pesquisadora da Unicamp no estudo sobre uso de nanopartículas de ferro como fortificante para leite (Foto: Antonio Scarpinetti/Ascom/Unicamp)

A partir do leite materno

A nanopartícula ainda não havia sido testada como fortificante, segundo a pesquisadora. Em parceria com a Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, foi analisado o ferro na composição do leite materno. Já o estudo do metabolismo desse componente químico foi feito na Espanha, com tecnologia avançada.

“O ferro na nanopartícula está numa forma similar à ferritina presente no organismo. É um ponto de partida. A absorção foi maior”, conta Rafaella.

Amostra do leite materno é convertida em átomos e íons no estudo da Unicamp e faculdade da Espanha sobre nanopartículas de ferro (Foto: Antonio Scarpinetti/Ascom/Unicamp)Amostra do leite materno é convertida em átomos e íons no estudo da Unicamp e faculdade da Espanha sobre nanopartículas de ferro (Foto: Antonio Scarpinetti/Ascom/Unicamp)

Amostra do leite materno é convertida em átomos e íons no estudo da Unicamp e faculdade da Espanha sobre nanopartículas de ferro (Foto: Antonio Scarpinetti/Ascom/Unicamp)

Desenvolvimento do bebê

A absorção do ferro pelo organismo, principalmente, de recém-nascidos é essencial para a prevenção de doenças como a anemia e o crescimento da criança.

“É um alimento essencial. […] A gente precisa dele pra viver. É um dos elementos do leite materno mais estudados porque a gente tem um grande problema de anemia a nível mundial”, afirma a pós-douturanda.

Em relação aos bebês prematuros, Rafaella ressalta que muitas vezes o leite materno não está disponível, e eles têm maior necessidade de ingerir nutrientes. Nesses casos, a opção é o leite humano doado ou as fórmulas infantis.

A pesquisadora Rafaella Peixoto analisa amostras de leite materno em estudo da Unicamp em parceria com faculdade da Espanha (Foto: Antonio Scarpinetti/Ascom/Unicamp)A pesquisadora Rafaella Peixoto analisa amostras de leite materno em estudo da Unicamp em parceria com faculdade da Espanha (Foto: Antonio Scarpinetti/Ascom/Unicamp)

A pesquisadora Rafaella Peixoto analisa amostras de leite materno em estudo da Unicamp em parceria com faculdade da Espanha (Foto: Antonio Scarpinetti/Ascom/Unicamp)

Metabolismo em cobaias

Em cobaias, os pesquisadores analisaram como as nanopartículas de ferro se metabolizam no organismo a partir da fórmulas de leite. Ela foi administrada em ratos e, posteriormente, o foco foi o resultado no sangue e no fígado.

“Isso significa que, se ela chegou, está sendo usada em funções metabólicas. Poderia ser excretada do organismo, mas foi absorvida. […] Verificamos que o ferro que administramos como nanopartícula chegou no sangue dos ratos, no fígado, ou seja, ela foi absorvida”, ressalta.

A composição e o metabolismo do leite materno foram analisados no estudo da Unicamp, em Campinas (Foto: Antonio Scarpinetti/Ascom/Unicamp)A composição e o metabolismo do leite materno foram analisados no estudo da Unicamp, em Campinas (Foto: Antonio Scarpinetti/Ascom/Unicamp)

A composição e o metabolismo do leite materno foram analisados no estudo da Unicamp, em Campinas (Foto: Antonio Scarpinetti/Ascom/Unicamp)

Próximos passos

A pesquisadora explica que mais testes com relação ao metabolismo e a biodisponibilidade in vitro ainda estão sendo realizados.

“Em laboratório, simulamos uma camada intestinal, e isso em um método que o laboratório da professora Solange foi pioneiro no Brasil. Fazendo os testes in vitro temos a possibilidade de fazer um número maior de ensaios”, explica.

A nanopartícula de ferro já está patenteada e a pesquisa está em processo de publicação em revistas internacionais. O estudo segue em andamento e, segundo Rafaella, ainda não há uma previsão para que a novidade seja disponibilizada no mercado.

A pesquisadora da Unicamp, em Campinas, Rafaella Peixoto explica eficiência das nanopartículas de ferro para uso como fortificante em fórmulas de leite infantis e até no leite materno (Foto: Antonio Scarpinetti/Ascom/Unicamp)A pesquisadora da Unicamp, em Campinas, Rafaella Peixoto explica eficiência das nanopartículas de ferro para uso como fortificante em fórmulas de leite infantis e até no leite materno (Foto: Antonio Scarpinetti/Ascom/Unicamp)

A pesquisadora da Unicamp, em Campinas, Rafaella Peixoto explica eficiência das nanopartículas de ferro para uso como fortificante em fórmulas de leite infantis e até no leite materno (Foto: Antonio Scarpinetti/Ascom/Unicamp

Fonte: https://g1.globo.com